A CAVERNA E A VIDA

Recebi um convite de uns amigos para passar o feriado no PETAR. Sempre tive curiosidade de ir para lá. O que tem lá? Hoje são mais ou menos 700 cavernas catalogadas, porém só podemos visitar umas 65. Como eu adoro uma aventura eu fui!
Não tinha a menor ideia do que encontraria por lá; meu objetivo principal era descansar, entrar em contato com a natureza, conectar comigo mesma, com meus amigos e conhecer novas pessoas.
E assim foi. Saímos na madrugada de sexta; no meio do caminho a nossa internet pifou, na verdade não foi só a internet, foi o sinal do celular também, o que eu, particularmente, achei incrível, uma vez que queria descansar por completo e estar presente naquele lugar. Chegamos lá e o desafio era encontrar nosso guia no ponto de encontro; ele não tinha celular, internet, nada. A única coisa que sabíamos é que ele tinha um blackpower e uma barba gigante. Realmente foi bem fácil de encontrá-lo. Recebeu o grupo com um sorrisão no rosto, uma figura única!
Deixamos as coisas na pousada, charmosa pela sua simplicidade e natureza, e seguimos o nosso caminho em direção a nossa primeira Caverna, que no caso seria a “Santana”. É uma caverna mais educativa e os guias geralmente usam esta caverna para explicar o que pode e que não se pode fazer numa caverna. Mas não tivemos tanta sorte. Já não havia mais vaga e seguimos rumo a outra caverna, a “Morro Preto”.
Para mim esta foi a caverna mais ousada, talvez porque foi a primeira caverna visitada. “Morro Preto” era o nome dela, então nem passou pela minha cabeça que poderia ter um morro dentro da caverna.
O que eu descobri ao entrar na primeira caverna:
- Use sempre capacete;
- Lanterna na caverna é um artigo de extrema importância, tipo um artigo de luxo, então sempre que puder economize as pilhas;
- Use um tênis de trilha, aqueles que são mais difíceis de escorregar;
- Siga o Líder, neste caso o Guia Jeovani; se ele der algum comando obedeça; geralmente eles conhecem lá dentro como ninguém;
- Experimente o “blackout”; é impressionante o silêncio e o tamanho da escuridão dentro de uma caverna;
- Para os altos de plantão cuidado com as costas pois a cabeça estará protegida;
- Divirta-se com seus amigos;
- Viva e aprecie cada momento e cada CAVERNA. Elas possuem uma beleza única.
Ao entrarmos na caverna me deu um mega frio na barriga, o medo do desconhecido, mas estava ansiosa para saber o que eu iria encontrar lá dentro. Logo que entramos já tinha um grupo. E no alto, bem alto e bem longe escutamos algumas vozes; na verdade vimos as luzes dos capacetes e pareciam bem distantes num morro. Sim “o” “Morro Preto”, rs. E eu só pensei: e agora, teremos que ir até lá?
Fiquei totalmente vulnerável, com medo, receio, aflição, insegura, mas mesmo assim não podia abandonar o grupo naquele momento. Então continuei. O quanto isso acontece na vida temos duas opções: ou paralisamos ou avançamos, e eu resolvi avançar. O quanto olhamos de verdade para nossa vulnerabilidade? O quanto olhamos e damos a atenção plena para as reações do nosso organismo?
Eis que chegou o primeiro abismo. E logo veio a voz interna falando: “e agora, não vou conseguir atravessar este abismo”, e meu corpo logo reagiu a isso. Travou, não ia nem para frente e nem para trás. Jeovani voltou e começou a conversar comigo, foi me acalmando. Eu no desespero comecei a gargalhar (quem conhece minha risada sabe que ela não é nada silenciosa). Comecei a respirar lentamente; nestas horas a gente esquece até de respirar. O medo paralisa. Ele foi me dando as coordenadas e eu as fui seguindo até que consegui atravessar aquele maldito abismo. Ufa, lá se foi o primeiro abismo na caverna. Chegamos naquele lugar no alto. De fato era bem alto mesmo. De lá avistávamos a entrada da caverna, uma das imagens mais lindas que eu vi. Valeu o desafio de chegar lá!
“O meio do caminho é confuso, mas é também onde a mágica acontece”.
Brené Brown
Duas coisas me chamaram a atenção: 1. A diversidade e a forma que cada um lida com seus medos e desafios. 2. A habilidade do Líder de identificar cada pessoa que estava no grupo e desafiar as nossas capacidades e habilidades, fazendo com que as superássemos em cada caverna.
Fomos para a segunda caverna, mais simples, mais leve, um grande galpão dentro da caverna, mas lógico que nosso guia não deixaria ser tão simples assim. Fizemos o “blackout”. Ficamos todos sentados e apagamos todas as lanternas do capacete. É interessante como se ampliam todos os nossos sentidos. Para mim sempre fico com a sensação de como é bom viver e poder perceber tudo isso. Experimentar cada lugar, cada vivência.
Acabou nosso dia no parque. Fomos para a cidade descansar para o dia seguinte que seria intenso.
No dia seguinte chegamos cedo no parque, mas já estava lotado. Nosso objetivo era fazer 10 km com 2 cachoeiras e 2 cavernas.
Na primeira caverna o desafio foi entrar em um buraco, e o receio de ficar presa! Neste momento veio um pensamento: quanto nos aventuramos e nos arriscamos na vida? Quanto nos entregamos nas experiências que a vida nos oferece?
Começamos com sobe e desce a caminho da cachoeira; água e desafios com pedra eram o tempo todo. Travessia de rio: é nestas horas que o trabalho em equipe é fundamental. Demos as mãos e confiamos no ser ao nosso lado. Isso dá uma segurança para continuar o caminho.
Todo caminho leva a algum lugar. E de fato chegamos em duas cachoeiras. 3,6 km para chegar em um lugar incrível. Sempre compensa. Ou é cachoeira, ou é uma vista de tirar o ar. As experiências entre as duas são completamente diferentes. Nos deliciamos, pausamos para um lanche, mas logo era hora de voltar.
Ainda faltava a caverna “Água Suja”. O nome já diz: muita água dentro da caverna. Das faíscas do quartzo à cachoeira dentro da caverna e uma saída com uma experiência de tirar o ar. Jeovani, nosso guia, pediu para ficarmos de olhos abertos, mão dadas e apagar as lanternas. Estávamos com água até o joelho. Víamos somente a silhueta das estalactites, talvez uma das experiências mais incríveis que já vivenciei. Como pode o mesmo lugar te proporcionar experiências tão incríveis. Mudar a intensidade, aumentar a aventura e dar um frio na barriga que nos faz vivos.
A vida de fato é um grande experimento e vai de nós como queremos experimentar e vivenciar todas as oportunidades que nos aparecem.
Às vezes nem escutamos bater à porta e deixamos a oportunidade passar.
Às vezes vivemos, mas com muito receio, mas para mim o mais interessante é quando nos permitimos viver de verdade, presente, entregue à vivência.
A última foi a “Caverna Santana”. Bem tranquila, mas tão linda quanto as demais.
Dar os “stops” na vida nos tiram da zona de conforto, nos permitem termos “insights” e nos conectarmos com nossa essência.
O meu maior “insight” foi a necessidade de plugar com a natureza, os amigos e comigo mesma! Presença, intensidade e aventura estarão sempre no meu caminho!
Qual será minha próxima aventura?