A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA NO ÂMBITO CORPORATIVO
Um dia li uma frase na internet que me chamou atenção e fez todo sentido quando falamos de CNV:
Somos naturalmente violentos, mas potencialmente não violentos.
Resumindo: diferente dos animais, os humanos podem alterar sua natureza violenta através da consciência e novas práticas.
A abordagem da CNV sugere uma nova forma consciente de se comunicar, onde nos conectamos num nível mais profundo consigo mesmos e com as outras pessoas, entendendo o real sentido das palavras, os sentimentos e necessidades (atendidas e não atendidas) por trás delas.
Como Fernando Pessoa escreveu:
“É fácil trocar palavras, difícil é interpretar os silêncios.”
Em minha opinião e prática, a CNV tem como principal objetivo nos tornar mais conscientes, menos julgadores e gerar conexões mais profundas entre as pessoas, tendo como consequência relacionamentos mais autênticos e desarmados além uma comunicação clara e fluída. Não é uma fórmula mágica, pronta para ser colocada em prática, mas é um método bem eficaz que exige dedicação diária de cada um de nós.
Sempre recomendo a leitura do livro do Marshall B. Rosenberg: “Comunicação Não-Violenta – Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”. Marshall nos apresenta todos os conceitos envolvidos nessa prática, de uma maneira muito simples de entendermos e nos identificarmos.
A internet também é repleta de vídeos, cursos on-line, discussões, webinares, grupos nas redes sociais (Facebook, Instagram), onde encontramos informações, conceitos, pessoas e grupos de estudo e práticas para aperfeiçoamento da técnica.
Para ampliar nosso vocabulário de sentimentos e necessidades também recomendo alguns jogos e baralhos de CNV, como o Grok da Colibri, ótimo para resolver questões e conflitos individualmente ou em grupos/times.
Recomendo também que, se houver oportunidade, todos participem de algum workshop presencial introdutório ao tema, onde você vai encontrar pessoas com o mesmo desejo de aprender e iniciar a prática. Participei de um facilitado pelo Dominic Barter, um inglês que adotou o Brasil como morada e tem contribuído em projetos sociais no Rio de Janeiro utilizando a CNV. Muitas vezes, ao final desses encontros, são sugeridos e formados grupos de apoio para dar continuidade ao processo.
Na Gratitude, onde trabalhamos com o desenvolvimento de executivos, noto a necessidade cada vez maior de trazer o tema e ferramentas de CNV para enriquecer e aprofundar os processos. Não à toa, desenvolvemos uma trilha de conhecimento no formato de Quadrados de Conversa – Comunicação Consciente.
Li recentemente uma pesquisa sobre engajamento no trabalho que nos chama a atenção:
- 89% dos empregadores acham que os funcionários só saem do emprego por salário.
Em contrapartida, foi constatado que:
- Apenas 12% dos empregados mudam de emprego por salário e 75% das pessoas pedem demissão por causa dos chefes.
Algumas reclamações, que envolvem problemas na comunicação, que mais ouço nos dias de hoje:
“Meu chefe não me escuta. Meu chefe só fala em metas e performance. Meu chefe não enxerga o meu potencial.”
“Sofro assédio moral todos os dias. Sou o tempo todo depreciado e nunca reconhecido. Me sinto manipulado.”
“As pessoas nesta empresa não são abertas ao diálogo. Sempre querem impor suas ideias e a inflexibilidade para mudanças impera. Ninguém colabora com ninguém aqui. As pessoas são muito competitivas.”
“Muitas vezes me considero uma farsa aqui dentro (da empresa).”
Com as técnicas de CNV estimulamos, no processo de Coaching, a escuta ativa, a busca pela assertividade, a identificação de possíveis gatilhos que geram conflito na comunicação, ao entendimento das necessidades de cada um do seu time e como supri-las, exercícios de empatia, gratidão, reconhecimento e, principalmente, vulnerabilidade.
A ideia é ampliar a consciência do gestor em relação à sua equipe, gerar um ambiente de segurança e confiança, onde todos se sintam acolhidos e apoiados para que desempenhem no melhor do seu potencial individual e em grupo. Melhores resultados serão consequência da mudança positiva no entrosamento entre as pessoas e o aumento do engajamento de todos.
Mas é possível incorporar empatia e autenticidade no dia a dia do trabalho?
Sim, diria que é possível, embora em alguns ambientes corporativos, vale avaliar como a Cultura Organizacional acolhe esses temas. Por exemplo, se no papel uma empresa prega que estimula a prática da inovação, mas na prática seus líderes são os primeiros a apontar os erros e fracassos num processo de mudança, dificilmente as pessoas serão 100% autênticas, com medo de serem julgadas e mal avaliadas.
Acreditamos na Gratitude que Liderança Autêntica é desejar ter uma equipe que diga “não” para o Líder. Isso significa que ele construiu um ambiente seguro emocionalmente, baseado na confiança e no diálogo.
Desenvolver, treinar e dar ferramentas para que esse líder seja um agente positivo de mudanças é o primeiro passo para a prática da empatia e autenticidade. O líder precisa se conhecer melhor, entender as motivações de sua equipe (empaticamente) , desafiar e trazer à tona o melhor de cada um (autenticidade).
E como a CNV entende e pode nos ajudar a lidar com os conflitos?
Segundo Marshall: “No cerne de toda a raiva há uma necessidade que não está sendo satisfeita.”
Utilizando os conceitos e práticas da CNV todos ampliam a capacidade de avaliar a situação do agressor, os sentimentos e necessidades (não atendidas) por trás de seu comportamento reativo. Entender qual a boa intenção por trás de qualquer comportamento pode ser libertador e quando o agressor se sente acolhido e compreendido, o processo muda de polaridade.
“Quando nos concentramos em esclarecer o que está sendo observado, sentido e necessário, ao invés de diagnosticar e julgar, descobrimos a profundidade de nossa própria compaixão.” – Marshall Rosenberg
A comunicação não violenta já foi utilizada em situações de extremo conflito e agressividade, em guerras, disputas de território, discussões políticas e religiosas, com um alto grau de efetividade. Claro que para isso é necessário que ambas (ou todas) as partes estejam dispostas e abertas ao diálogo.
A dinâmica da CNV vai desconstruindo o discurso agressivo, onde as pessoas atuam baseadas em “estratégias” para querer convencer e vencer. O intuito é de trazer o diálogo das estratégias, para as necessidades, comuns a todos nós. Quando entendemos o que falta ao outro, e vice versa, podemos chegar a um denominador comum, que resolva o conflito numa dinâmica ganha-ganha.
A meu ver, os maiores benefícios da CNV para o ambiente de trabalho seriam:
- Conexões e relacionamentos mais profundos e autênticos;
- Sensação de estar num ambiente seguro e confiável;
- Aumento do grau de tolerância à diversidade e diminuição do julgamento (assim como eu, tudo o que fazemos visa atender nossas necessidades. Reconheço as minhas e as suas necessidades);
- Estímulo de outras práticas não violentas de resolução de conflitos e diferenças baseadas em empatia, compaixão, colaboração, cooperação, suporte, mediação;
- Diminuir as possíveis situações que geram conflitos no ambiente corporativo;
- Empoderamento das pessoas para que se sintam capazes de resolver suas questões, sem a necessidade de recorrer a um chefe ou outra pessoa que tenha como referência de “herói apaziguador”;
- Entender que o conflito pode ser positivo e construtivo, quando bem administrado por todos
Basicamente podemos dizer que equipes melhor entrosadas e mais engajadas geram melhores resultados.
Os funcionários falam bem da empresa, tendem a permanecer mais tempo e empenham-se muito mais no seu dia a dia.
Há constatação em algumas empresas com funcionários engajados de 250% mais de receita comparado aos concorrentes com baixo nível de engajamento.
E, além disso, vale dizer que um maior engajamento gera impacto positivo sobre a marca da empresa, diminuindo o turnover e atraindo talentos no mercado.
Para finalizar, é importante ressaltar a importância do autoconhecimento e desenvolvimento dos líderes nas empresas, principalmente dar apoio para que ele desenvolva relacionamentos com seus times baseados em confiança mútua, gerando comprometimento por resultados.
Um líder que se comunica melhor no seu dia a dia tem maiores chances de crescer junto de sua equipe e a CNV, como uma ferramenta poderosa disponível, pode ajudar e muito nesse objetivo maior.