“Será que o sol sai pra um voo melhor?
Eu vou esperar, talvez na primavera
O céu clareia e vem calor vê só
O que sobrou de nós e o que já era
Em colapso o planeta gira, tanta mentira
Aumenta a ira de quem sofre mudo
A página vira, o são delira, então a gente pira
E no meio disso tudo
‘Tamo tipo’ Passarinhos soltos a voar dispostos
A achar um ninho
Nem que seja no peito um do outro”
Estes dias tenho contemplado a natureza que existe na minha varanda.
Faz alguns anos que acordo com o som das maritacas e, quando chega a tarde, as andorinhas aparecem para dar um show de liberdade, voando dispostas e fazendo manobras entre elas…confesso que nunca as tinha notado.
Será que elas sempre estiveram aqui ou foi o mundo parar para poder parar junto com ele e contemplar.
A pressa, a correria, o dia-a-dia, o que fizemos das pequenas coisas?
O que fizemos destes momentos de contemplação?
De ver a natureza semear, crescer, florir e morrer.
O mundo nos obrigou a fazer esta pausa. E como estamos apreciando estes momentos ricos de tanta simplicidade, sonoridade, cores e beleza.
Onde estamos colocando o nosso foco?
Por onde andamos por tanto tempo, perdidos e desfocados em várias coisas, no meio dessa tecnologia, que perdemos o brilho de poder olhar nos olhos.
De falar o que pensamos e sentimos.
De apreciar as pequenas coisas.
Perdemos tanto tempo com coisas que agora não fazem mais sentido.
E o que é de verdade?
O que a vida tem nos mostrado?
Deixando o que é essência e importante para o hoje.
Mostrando que o tempo é diferente do que vivemos até um mês atrás.
Que hoje podemos contemplar, escutar, parar e ver o que a natureza está nos contando.
Com dor, desafios, mas também com muita beleza e amor.
Que possamos desfrutar de tudo isso, saindo mais fortalecidos e apreciando melhor o tempo do jeito que ele é. Sem querer acelerar ou ultrapassar nossos limites.
Mês passado a revista Exame tinha como capa uma matéria rica sobre Burnout e hoje fomos obrigados a pausar tudo para aprender com este tempo que precisamos e nos é precioso.
Tempo e qualidade nas relações.
Que possamos sair desta pandemia com saúde e melhores.
E sobre o Tempo, deixo aqui a música para contemplarmos:
Oração do tempo de Caetano Veloso:
“És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, tempo, tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo, tempo, tempo, tempo
Quando o tempo for propício
Tempo, tempo, tempo, tempo
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo, tempo, tempo, tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo, tempo, tempo, tempo
O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo, tempo, tempo, tempo
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Não serei nem terás sido
Tempo, tempo, tempo, tempo
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Portanto, peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo, tempo, tempo, tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo, tempo, tempo, tempo”